Preço da carne sobe 20% em um ano, mesmo após tarifaço de Trump

Exportações brasileiras aumentam 34% até agosto de 2025, mantendo o valor da carne bovina elevado no mercado interno

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Nem mesmo o tarifaço imposto pelo governo americano sobre produtos brasileiros foi capaz de reduzir o preço da carne bovina, no Brasil. O consumidor brasileiro continua sendo castigado com valores altos para adquirir a principal proteína animal, cada vez mais rara na mesa, sobretudo dos trabalhadores. O governo, por sua vez, pouco ou nada tem feito para reverter esse cenário, seja por meio de medidas internas, seja em negociações diplomáticas com os Estados Unidos.

De acordo com dados recentes, o preço da carne no Brasil subiu mais de 20% em um ano, contrariando as expectativas de economistas que projetavam uma queda após o anúncio das tarifas de Donald Trump. A previsão era de que as exportações brasileiras para o mercado norte-americano diminuíssem, resultando em maior oferta interna e, consequentemente, em preços mais baixos.

No entanto, o movimento contrário ocorreu. Outros países ampliaram a demanda pela carne brasileira, compensando a redução nas vendas aos Estados Unidos. Entre janeiro e agosto de 2025, as exportações cresceram 34%, impulsionadas principalmente por China e México, que registraram aumentos expressivos nas compras.

O México, por exemplo, elevou suas importações em mais de 250%, enquanto a China — já principal destino da carne brasileira — aumentou suas compras em 41%. Essa procura intensa no mercado internacional mantém os preços internos em patamares elevados, mesmo diante das medidas protecionistas impostas por Washington.

Segundo o pesquisador Thiago Bernardino, coordenador de Pecuária do Cepea (Centro de Estudos de Economia Aplicada da USP), o Brasil “possui os menores custos de produção do mundo”, o que reforça sua competitividade e garante a liderança nas exportações globais de carne bovina. Esse diferencial, embora positivo para o agronegócio, tem efeitos diretos no bolso do consumidor.

Em entrevista à TV Globo, Bernardino explicou que o aumento da demanda internacional compensa qualquer retração causada por tarifas externas. “O Brasil se consolidou como fornecedor essencial de proteína animal, e a procura global não dá sinais de arrefecimento”, afirmou o especialista.

Enquanto os pecuaristas celebram lucros recordes, o consumidor brasileiro sente o impacto direto no orçamento doméstico. As pequenas reduções de preço registradas nos últimos meses não foram suficientes para compensar o aumento acumulado, mantendo o quilo da carne bovina em patamares considerados proibitivos para grande parte da população.

A estiagem típica deste período do ano também tem contribuído para o encarecimento. A falta de chuvas reduz a oferta de pasto, dificulta o ganho de peso do gado e pressiona os custos de produção. A arroba do boi gordo, principal indicador do setor, permanece próxima de R$ 300 há quase 12 meses, sem perspectiva de recuo significativo.

Outro fator é o aumento da renda e a redução do desemprego, que, embora positivos, estimulam o consumo interno e ajudam a sustentar os preços altos. O professor de economia do Ibmec/SP, André Diz, explica que, “para muitas famílias brasileiras, a carne é um símbolo de status e satisfação. Assim que há algum ganho de renda, a primeira mudança no consumo é o aumento da compra de proteína animal”.

Com o cenário externo aquecido e o mercado interno em recuperação, a tendência é que o preço da carne siga pressionado até o fim do ano. Especialistas acreditam que, sem intervenção governamental ou queda nas exportações, o brasileiro continuará pagando caro por um produto que já foi presença obrigatória na mesa, mas hoje se tornou artigo de luxo para milhões de famílias.