O Brasil enfrenta uma crise social sem precedentes: o número de moradores de rua mais que dobrou em menos de dois anos. Dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (UFMG) mostram que, em maio de 2025, 345.542 pessoas viviam nas ruas do país, em comparação com 160 mil em dezembro de 2023, quando o governo federal lançou o Plano Ruas Visíveis. Apesar de anunciar um investimento de R$ 1 bilhão e mobilizar 11 ministérios, a promessa de reduzir a miséria urbana não se concretizou.
O crescimento da população em situação de rua é desigual, mas alarmante. O Sudeste concentra mais de 60% dos casos, com São Paulo liderando, abrigando 146.940 pessoas, seguido pelo Rio de Janeiro (31.693) e Minas Gerais (31.410). Aproximadamente 70% da população em situação de rua é negra, 84% são homens, e há mais de 10 mil crianças e adolescentes vivendo nas ruas, além de 32 mil idosos. A maioria não tem acesso a abrigos, dormindo em calçadas, praças e ocupações improvisadas.
Especialistas apontam que a responsabilidade pelo desastre social é do governo federal e de governos locais que não executaram políticas públicas de forma eficaz. A combinação de crise econômica, desemprego, déficit habitacional, políticas sociais insuficientes e impactos da pandemia agravou a exclusão e a miséria. O racismo estrutural também contribui, já que a população em situação de rua é majoritariamente negra.
Segundo o professor André Luiz Freitas Dias, do Observatório da UFMG, a situação configura uma flagrante inconstitucionalidade. “A Constituição de 1988 não está sendo cumprida com a população em situação de rua”, alerta. Entre os vulneráveis, 275 mil pessoas sobrevivem com até R$ 109 por mês, e mais da metade não concluiu o ensino fundamental, revelando o abandono sistemático das políticas públicas e a negligência do governo em proteger os cidadãos mais pobres e excluídos.

